Título: Cuba se aproxima do Mercosul e Fidel pode participar da cúpula
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Economia, p. B4

Informações extra-oficiais do governo da Argentina indicaram ontem que o presidente cubano, Fidel Castro, viajaria à cidade de Córdoba, onde participará amanhã da cúpula de presidentes do Mercosul. Castro desembarcaria na categoria de ¿convidado especial¿, já que o bloco do Cone Sul está finalizando um acordo comercial de preferências alfandegárias com Cuba, que favorecerá mais o Mercosul do que a ilha caribenha. Enquanto os países do bloco compram basicamente medicamentos, rum e charutos produzidos em Cuba, o Mercosul vende à ilha produtos industrializados como máquinas agrícolas, veículos (chassis de ônibus, principalmente) e eletrodomésticos.

O vice-governador da província de Córdoba, Juan Schiaretti, disse que o governo provincial ainda não recebeu a ¿confirmação¿ da visita do líder socialista. ¿Por motivos de segurança, este tipo de confirmação acontece só no último minuto¿, explicou. A eventual presença de Fidel Castro na cúpula do Mercosul está ouriçando centenas de ONGs, sindicatos e organizações sociais, além de partidos de esquerda, que realizarão uma cúpula ¿alternativa¿ à de presidentes. Os organizadores esperam contar com a presença do presidente venezuelano, Hugo Chávez; do boliviano Evo Morales, além do próprio Castro, que se tornaria estrela do evento.

Os manifestantes aproveitarão para protestar contra a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e as negociações comerciais do Mercosul com Israel (o bloco do cone sul está avançando em um acordo de tarifas preferenciais com aquele país).

Enquanto a esquerda se regozija, a visita do líder cubano irrita setores moderados e conservadores, que consideram que a presença de Castro ¿esquerdizará¿ a cúpula do Mercosul. Esses setores argumentam que a participação do presidente cubano enervaria os governos dos Estados Unidos e dos países da União Européia, que já estão bastante preocupados com a entrada da Venezuela comandada por Chávez como quinto sócio pleno do bloco, além da presença na cúpula do socialista Morales, que estará em Córdoba na categoria de presidente de país ¿associado¿ do Mercosul.

De acordo com os analistas políticos e econômicos, com Chávez no bloco, uma negociação ¿5 mais 1¿ com os Estados Unidos seria impossível.

Para evitar problemas de segurança e eventuais protestos violentos, o governo do presidente Néstor Kirchner providenciou a ¿militarização¿ da cidade de Córdoba, onde a segurança foi reforçada com 5 mil policiais, além de agentes de inteligência e Forças Armadas.

PARAGUAIOS FRUSTRADOS Kirchner reuniu-se ontem em Assunção com o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos. Até a reunião, os paraguaios esperavam que Kirchner aceitasse o pedido de Duarte Frutos de perdoar parte da dívida do Paraguai com a Argentina pela Hidrelétrica de Yaciretá, construída sobre o Rio Paraná, entre os dois países.

O governo paraguaio pretendia reduzir a dívida dos atuais US$ 12 bilhões para US$ 7,3 bilhões. No entanto, Kirchner preferiu prorrogar uma resposta oficial sobre o assunto, e optou por sugerir a criação de uma comissão binacional que no prazo de 90 dias analisará a ¿viabilidade¿ da idéia de redução da dívida. A recusa argentina em reduzir a dívida irritou os paraguaios, que nos últimos 12 meses começaram a especular sobre a possibilidade de realizar acordos comerciais passando por cima do Mercosul.

SEM CHARUTO No entanto, apesar da importância política de Fidel Castro e da assinatura de um acordo que favorece mais o Mercosul do que a própria ilha caribenha, o líder cubano não poderá desfrutar de seus costumeiros charutos Cohiba em solo cordovês.

O prefeito da cidade de Córdoba, Luis Juez, famoso por suas declarações peculiares, afirmou que, se vir ¿el comandante¿ acendendo um charuto, lhe pedirá que ¿vá fumar no pátio dos fundos¿ do Palácio Ferreyra, onde será realizado o jantar de homenagem aos presidentes que participam da cúpula. O pedido de Juez tem motivos, já que meses atrás o prefeito decretou a proibição de fumar em lugares públicos e privados fechados na cidade.