Título: Compra sob investigação envolve Suassuna
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Nacional, p. A9

O procurador da República em Campina Grande, Rodolfo Alves Silva, vai abrir inquérito para apurar denúncia de irregularidades na compra de duas ambulâncias e três carros Fiat feita pela prefeitura de Cacimba de Dentro (PB) com recursos do Orçamento da União. Executadas com dinheiro de emendas apresentadas por três parlamentares da Paraíba - o senador Ney Suassuna (PMDB), o deputado Philemon Rodrigues (PTB) e o ex-deputado Ricardo Rique (PL) -, as transações foram realizadas com as empresas Planam e Frontal, acusadas pela Polícia Federal de conluio com a quadrilha dos sanguessugas no esquema de compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras.

No caso das ambulâncias, duas licitações-convite foram feitas pela prefeitura antes da sanção do orçamento de 2004. Esse tipo de procedimento é apontado pela Controladoria-Geral da União (CGU) como indício de direcionamento de licitação. Outro dado incriminador é a manutenção do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) das ambulâncias em nome da Planam. Para a CGU, é indício de compra de ambulâncias usadas. Serviria, portanto, para ocultar que foram montadas sobre chassis velhos, que já estiveram em nome de outros proprietários.

Ao Estado, o prefeito de Cacimba Grande, Clidenor José da Silva (PMDB), disse ter conversado com Suassuna e seu assessor, Marcelo Carvalho, sobre a transferência dos R$ 80 mil da emenda do senador para compra dos Fiats. O dinheiro tinha sido inicialmente direcionado para compra de uma terceira ambulância. Mas o prefeito disse ter optado por aplicar os recursos na compra de três veículos para usá-los no Programa de Saúde da Família (PSF).

Senador e prefeito asseguram que o Ministério da Saúde autorizou a mudança. Clidenor afirma ter conversado com Marcelo e Suassuna no gabinete do Senado. Suassuna nega que tenha conversado com o prefeito: "Ele deve ter conversado é com meu gabinete." O senador afirma que as acusações foram geradas por adversários. "Não tem irregularidade nenhuma. Estão fazendo isso por pirraça. Não sou homem de ir atrás de dinheiro de ambulância." Sobre sua ligação com Marcelo, afirma que não poderia ser diferente sendo ele seu assessor. "Como é que Marcelo, sendo meu assessor, não tinha ligação comigo?" O assessor está preso em Cuiabá, denunciado pelo Ministério Público por diversos crimes.

Philemon afirma que repassou os R$ 96 mil da sua emenda para a Secretaria de Saúde do Estado e não para a prefeitura. "Tem de perguntar o que ocorreu ao Estado." Rique não retornou as ligações do Estado. Clidenor disse que se limitou a "homologar" as licitações.