Título: Classe C tem maior potencial de consumo
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

A classe C é hoje o mercado com maior potencial de crescimento para o consumo, o que abre oportunidades de negócios tanto para varejistas quanto para empresas que fornecem crédito. Com aspirações de consumo cada vez mais parecidas com as das classes A e B, a classe C é também a que tem mais intenção de financiar suas compras.

É o que mostra o estudo sobre renda e hábitos de consumo "Observador Brasil", divulgado ontem em São Paulo. Fruto de uma parceria entre a financeira francesa Cetelem e o instituto de pesquisas Ipsos-Opinion, o levantamento ouviu 1,2 mil pessoas em todo o País.

"O crédito é um meio para que as pessoas da classe C cheguem mais perto do padrão de vida das classes mais ricas", diz Franck Vignard Rosez, diretor de Marketing e Desenvolvimento da Cetelem Brasil. O estudo servirá para antecipar tendências de consumo e ser uma ferramenta estratégica para os varejistas.

De acordo com o estudo, a classe C representa hoje 34% da população brasileira e tem renda mensal média de R$ 1.107,08. Descontados os gastos essenciais (alimentação, moradia, medicamentos, entre outros), sobra uma fatia disponível para consumo de R$ 122,34.

"Um dos mitos que esse estudo derruba é que a renda não gasta das famílias mais pobres é muito pequena. Na prática, há espaço para gastos não-essenciais", afirma Rosez.

No topo da lista de objetos de desejo da classe C aparece o computador (85% das intenções), seguido de móveis (83%) e eletroeletrônicos (79%). A classe C também mostra disposição de adquirir mais bens nos próximos meses (45% dos entrevistados).

Segundo Rosez, a grande penetração dos eletrodomésticos mais simples (fogões, rádios) na classe C desloca o desejo do consumo para produtos mais caros. "O grande exemplo atual são as TVs de tela plana, de plasma ou cristal líquido, cobiçadas pelas classes A, B e C", explica.

Já entre as classes D/E (51% da população), não há espaço para o consumo de supérfluos. Na média do estudo, a renda disponível dessas famílias é negativa. Ainda assim, há disposição desse segmento para tomar crédito: são gastos mensalmente R$ 84,44 com parcelamentos, o que compromete 15% do orçamento das famílias.

O estudo mostrou ainda que o fator decisório para se fazer compras a prazo é o valor total do bem - os de maior valor são os mais financiados, fazendo valer a lógica de que o consumidor assume prestações que caibam no orçamento. Mesmo entre os estratos sociais mais altos o parcelamento de bens é recorrente. As classes A/B, que têm alta renda disponível (R$ 631,79 em média) gastam 8% de suas receitas com o pagamento de prestações.

INTERNET O varejo eletrônico é um grande nicho a ser explorado no País, apontou ainda o estudo. Atualmente, 30,7 milhões de brasileiros têm acesso à internet e 11% já compraram produtos culturais (livros, CDs, DVDs) pelos meios eletrônicos. "Esses produtos são a porta de entrada do consumidor no varejo virtual", explica Georges Régimbeau, diretor-geral da Cetelem Brasil. Segundo ele, ainda há um preconceito de grandes varejistas brasileiros em relação a vender pela internet.

Para as empresas, fica um aviso: a renda média das pessoas que acessam a internet é de R$ 1.772 mensais e a fatia disponível para consumo é igualmente alta, de R$ 463.