Título: Aliados temem mais desgaste na imagem de Lula
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Para governistas, crise pode elevar preço do gás e afetar a indústria e a população de baixa renda

A crise com a Bolívia dominou os debates ontem no Congresso e dividiu opiniões entre os que temem pela imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os que reconhecem a soberania de Evo Morales para nacionalizar a produção de petróleo e gás no País e os que consideram que o presidente boliviano errou ao adotar essa ¿atitude exótica¿. Os aliados do governo estão entre os que temem o desgaste que a decisão de Evo pode provocar na imagem de Lula nesse período eleitoral.

Afinal, depois de três anos sem crises internacionais que ameaçassem a estabilidade econômica do País, os governistas temem que a ocupação dos campos da Petrobrás e o aumento iminente do preço do gás criem dificuldades eleitorais ao presidente Lula não só no meio empresarial, mas também nas classes menos favorecidas que consomem o gás de cozinha.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), defendeu uma solução negociada, mas não poupou Evo Morales. Ele disse que o presidente boliviano errou, tomou uma atitude precipitada, agressiva, que implicará a perda de credibilidade do governo da Bolívia.

Segundo Berzoini, o Brasil é parceiro econômico e também político da Bolívia e 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país é dinheiro que sai do Brasil. O líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), preocupado em conter uma nova onda de desgaste de Lula, começou a articular com líderes aliados e de oposição para evitar a ¿partidarização¿ dos debates. Trata-se de uma questão do País, na avaliação do senador. Ele também conversou com o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Scaff. A Fiesp avalia que nacionalização afetará, principalmente, os pólos petroquímicos e de cerâmica, grandes consumidores de gás natural.

¿Isso vai ter efeito negativo para o presidente Lula, seja pelo impacto econômico, seja pela vinda à luz de todos os equívocos de sua política externa¿, afirmou o líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (AM). A oposição considerou inadmissível que o governo alegue o fator surpresa. O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) lembrou que, há 15 dias, em Belo Horizonte, o presidente boliviano ¿deu vários sinais de que poderia tomar esta atitude exótica¿. Evo esteve no país para a reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Na Câmara, o presidente Aldo Rebelo (PC do B-SP) disse que o Brasil deve respeitar a soberania da Bolívia e defender energicamente os interesses do País. ¿Creio que precisamos, diante da atitude do governo boliviano, respeitar a soberania do País e adotar soluções de preservação dos interesses do Brasil.¿

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), culpou o presidente Lula pela crise com a Bolívia. ¿Por certo, Lula imaginou que Evo seria como ele, que na campanha eleitoral fazia bravatas que nunca foram cumpridas.¿ Para Freire, ¿não há como negar que o ato do Morales foi legítimo, um ato de soberania, e tem de ser respeitado, pois ele foi eleito pelo voto popular¿