Título: Acusados por mensalão ainda controlam cargos mais cobiçados
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2006, Nacional, p. A4

José Dirceu, Costa Neto e José Janene indicaram ocupantes dos principais postos de estatais e órgãos federais

Oito meses de acusações, três CPIs, 28 demissões no governo e muitas provas de corrupção depois, os cargos mais cobiçados da administração federal continuam sob o comando de apadrinhados dos principais acusados de operar o mensalão. Com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ex-deputados José Dirceu (PT) e Valdemar Costa Neto (PL), além do deputado José Janene (PP), dividem os cargos mais poderosos de estatais como a Petrobrás e órgãos como o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).

Nos últimos dois meses, o Estado entrevistou parlamentares, lobistas e empresários, que contaram como o loteamento político de cargos estratégicos - apontado pelo ex-deputado Roberto Jefferson como a principal forma de arrecadação para o caixa 2 dos partidos - resiste à atual crise. Com ajuda dessas fontes, a reportagem elaborou a lista dos 20 cargos mais visados, ordenada pelo volume de contratos gerenciados, pelo poder sobre negócios de grandes empresas e pelo potencial para fazer caixa irregular.

A conclusão? Não só todos estão sob indicação de partidos políticos, como a maioria se encontra sob a batuta de Dirceu, Costa Neto e Janene. Os demais estão distribuídos entre as cúpulas do PT e do PMDB.

Hoje, esse tipo de nomeação costuma passar pelo crivo direto do presidente, do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e da chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Apesar de cassado, Dirceu ainda exerce influência sobre indicações.

Segundo as fontes consultadas, seria um equívoco medir a importância desses cargos apenas pelo orçamento deles. A força de muitos dos cargos cobiçados está na capacidade de privilegiar amigos ou prejudicar inimigos. Treze dos 20 cargos levantados pelo Estado são de estatais, que concentram os maiores orçamentos da máquina pública.

Outros cargos disputados a foice estão no DNIT, na Receita Federal, na Infraero, em Itaipu, nos Correios, no Serpro, no Denatran e na Infraero. "É o filé", resume um lobista.

Esse "mapa da mina" não pressupõe que os ocupantes dos cargos tenham cometido irregularidades. A lista traz os locais mais atraentes para eventuais operações ilegais de arrecadação para partidos.

Nenhum lugar está tão sujeito a esse mecanismo quanto a Petrobrás, que controla R$ 23 bilhões anuais em investimentos. Cinco de suas diretorias aparecem na lista. Ali, quem dá as cartas são Dirceu e Janene, além do senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-diretor da empresa. A cúpula da Petrobrás permanece quase a mesma desde o começo da crise política.

Envolvido no mensalão, Costa Neto aumentou seu poder junto a Lula com a crise. Passou a dominar todo o DNIT, por ter mobilizado sua bancada para eleger Aldo Rebelo (PCdoB) presidente da Câmara. Indicado por Costa Neto para a presidência do órgão, Mauro Barbosa coordena os gastos de quase R$ 500 milhões da operação tapa-buraco. Em dezembro, a sessão do Senado que aprovou a nomeação dele foi um sucesso de público entre governistas. "Não sei por que tanto empenho para aprovar um cargo. Não deve ser coisa boa", cutucou na ocasião o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).

A prática de usar cargos para seduzir parlamentares não é invenção do governo Lula. Desde a gestão Sarney, no final dos anos 80, esse tipo de barganha é usada e se tornou fonte recorrente de escândalos. Mas surpreende que a crise do mensalão nada tenha mudado. "O escândalo não serviu de lição", desabafa o senador Jefferson Peres (PDT-AM). "Os mesmos mecanismos que geraram o escândalo são usados por Lula para administrar a crise. Certamente podemos esperar mais casos no futuro", prevê Cláudio Weber Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil.

Questionada sobre as nomeações políticas, a Petrobrás deu resposta lacônica por e-mail, informando que "os cargos técnicos de gerência são ocupados por profissionais concursados". A Casa Civil foi procurada na quinta, mas até a noite de sexta não se manifestou.