Título: Na cúpula tucana, Serra é levemente favorito
Autor: Carlos Marchi, Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Nacional, p. A8

Líderes do PSDB pendem para prefeito ao ver que ele rivaliza em votos com Alckmin no Estado

O relatório apresentado à cúpula do PSDB - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Tasso Jereissati e o governador Aécio Neves - na sexta-feira ajudou a definir alguns padrões que vão orientar a escolha do partido e estabeleceu um certo favoritismo do prefeito José Serra sobre o governador Geraldo Alckmin. Um dado do levantamento impressionou o alto comando tucano: a revelação de que Serra e Alckmin têm índices de preferência eleitoral muito parecidos em São Paulo.

O primeiro significado que os tucanos retiraram desta revelação foi que Serra não será penalizado pelos eleitores paulistanos se renunciar à Prefeitura. O segundo é que Serra, apesar de ter sido eleito na capital, rivaliza com Alckmin - que tem uma aprovação expressiva no governo do Estado - na preferência da maioria paulista. E a terceira é que os índices dos dois emprestam conforto à trajetória do candidato tucano, seja quem for, pela dimensão eleitoral de São Paulo.

Nos últimos tempos, muita gente no PSDB - a começar por Alckmin - questionou o recurso das pesquisas de opinião para definir o candidato, sob alegação de que, feitas agora, as pesquisas não revelariam a realidade de outubro. A apresentação dos relatórios do cientista político Antônio Lavareda, no entanto, mostrou que certa estava a direção do partido, quando fez a encomenda do pacote de estudos baseados em um cruzamento de pesquisas quantitativas e qualitativas.

À medida que a escolha começa a pender para um dos lados, a cúpula do PSDB se preocupa com a forma que a definição final vai ter. Comunicar ao escolhido que ele é o nome é fácil; complicado será dizer ao outro que seu nome não foi escolhido. Demover um deles da disputa vai exigir habilidade política, ainda mais se o preterido for o governador Geraldo Alckmin, que tem demonstrado certa ansiedade com o processo.

"Tudo tem de ser feito com muita cautela, já que o Alckmin é o principal cabo eleitoral do PSDB no Estado", comentou um tucano com bom trânsito entre o prefeito e o governador, e igualmente bem relacionado com os cardeais da legenda. Nos últimos dias, apesar de alguns sinais favoráveis a Serra, Alckmin não esmoreceu e demonstrou invejável disposição para resistir. Mais do que sonhar em representar o PSDB na disputa de outubro, ele entende que é o candidato natural do partido, já que está em final de mandato.

Recentemente ele disse ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - que assumiu o papel de árbitro da escolha, dada a sua condição de líder máximo do partido - que não pensa em abrir mão. "Se fosse para eu abrir mão, teria de ser para alguém que não tem mandato neste momento", disse, lembrando que comanda o segundo orçamento da República.

Se a escolha do PSDB recair em Alckmin, o partido sofrerá um trauma menor, já que não restará outro caminho a Serra a não ser continuar à frente da Prefeitura. Mas se a escolha, ao contrário, favorecer o prefeito, Alckmin terá pouco tempo para repensar seu futuro político. Se concorrer ao Senado, segundo pesquisas feitas pelo PSDB, ele deve vencer o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) na briga pela única vaga. Mas, se for candidato à Câmara dos Deputados, poderá arrebanhar uma votação recorde, o que o habilitaria naturalmente a ser o futuro presidente da Câmara, seja com Serra, seja com Lula na Presidência.