Título: Após lista de Furnas, acordo para esfriar CPI
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Nacional, p. A8

Leque de investigações não será aberto e tendência é evitar convocação de Duda e depoimento de Dimas Toledo

A pouco menos de dois meses do fim dos trabalhos da CPI dos Correios, o governo e a oposição fecharam um acordo para não ampliar seu leque de investigações: vão evitar uma nova convocação do publicitário Duda Mendonça e o depoimento do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, apontado como um dos cabeças de um suposto esquema de arrecadação de recursos de campanha em favor de candidatos do PSDB e de outros partidos nas eleições de 2002.

No mesmo pacote de trocar um depoimento pelo outro, a cúpula da CPI negocia com os aliados do governo e a oposição a derrubada do requerimento de convocação do banqueiro Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos. O banqueiro é amigo do senador José Sarney (PMDB-AP) e muito ligado aos petistas.

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que os pedidos de convocação de Duda e Dimas devem ser votados na semana que vem. Ele explicou que a idéia é aprovar as convocações depois da volta do relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e dos deputados Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Maurício Rands (PT-PE), que foram aos Estados Unidos tentar obter autorização para examinar os dados da quebra do sigilos bancário e fiscal de contas de Duda no exterior. "Achamos mais conveniente que se faça a votação dos requerimentos depois de termos acesso às contas do Duda no exterior", contou Delcídio.

TEMOR

Nos bastidores da CPI um novo depoimento do publicitário e a convocação de Dimas Toledo estão praticamente descartados. "O Duda só virá se surgirem informações novas", avaliou o senador Sibá Machado (PT-AC). "Temos de ver o que a CPI vai trazer de informações dos EUA", observou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Nem o governo nem o PT nem a oposição estão interessados em um novo depoimento de Duda. O publicitário já avisou que está abalado emocionalmente e disposto a contar tudo o que sabe. Ele fez campanhas para petistas, tucanos e políticos de vários outros partidos.

Já a oposição não quer ver Dimas na CPI dos Correios, com uma suposta lista - atribuída a ele - de políticos cujas campanhas eleitorais teriam recebido recursos de Furnas. Dossiê em poder da Polícia Federal inclui os nomes de 156 candidatos de PSDB, PFL, PTB, PL e PP que teriam se beneficiado nas eleições de 2002. "Não tenho dúvidas de que essa lista é uma tentativa de intimidar a oposição. É uma lista claramente montada para intimidar a oposição", afirmou ontem o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "De repente não acrescenta nada a vinda do Dimas aqui e só serve para fazer um espetáculo", disse Ideli.

Mas o PT não abre mão de ouvir o depoimento do lobista mineiro Nilton Monteiro, que teria entregue à Polícia Federal a lista com os nomes dos políticos que receberam dinheiro de caixa 2 para as campanhas de 2002. Monteiro, que teve sua convocação aprovada pela CPI dos Correios em agosto passado, também foi o responsável pela denúncia de caixa 2 na campanha de 1998 do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB), quando ele tentou reeleger-se ao governo de Minas.