Título: Serra deixa Prefeitura se povo quiser, diz FHC
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Nacional, p. A9

Após reunião, ex-presidente ressalta importância das pesquisas eleitorais

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tirou definitivamente do armário a pré-candidatura do prefeito José Serra à Presidência. "José Serra será candidato se o povo quiser que ele seja", afirmou ontem, depois da primeira reunião formal da cúpula do PSDB para tratar da disputa entre o prefeito e o governador Geraldo Alckmin em torno da candidatura tucana. Questionado sobre a repercussão negativa de uma eventual renúncia de Serra com pouco mais de um ano de mandato, Fernando Henrique evocou a vontade popular e deu sinais do peso que terão as pesquisas de opinião no processo de definição interna da legenda. "Se o povo quiser, não haverá desgaste."

De acordo com a última pesquisa Ibope, no confronto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito aparece com 31% das intenções de voto, quase o dobro da marca do governador. Ao contrário de Alckmin, Serra tem evitado assumir a disposição de concorrer. Após quase quatro horas de reunião e almoço na casa do ex-presidente, com o governador Aécio Neves (MG) e o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), Fernando Henrique negou preferir algum dos postulantes. Esforçou-se para isso até depois de falar da preferência popular. Concordou com o argumento dos alckmistas de que a candidatura do governador seria "natural". "É mesmo. Ele já está terminando o mandato." À entrada, Aécio havia dito o mesmo.

O encontro de ontem, segundo FHC, foi o primeiro de vários antes do anúncio definitivo, até o fim de março. "Nosso papel é de facilitadores", disse. "Candidato quem escolhe é o próprio País, é o povo. Vamos medindo com o tempo quem tem maior capacidade de representar a aspiração nacional."

As pesquisas de intenção de voto, ressaltou, são um dos elementos em análise. "Pesquisa é fotografia do momento." Mas o povo não vai decidir? "Não é só em função de pesquisa. É em função também da capacidade política, da aceitação na sociedade...é mais complexo."

FHC ainda manifestou preocupação com o discurso tucano na campanha - "precisamos ter argumentos" - e evitou ataques a Lula.

Supostamente mais ligado a Alckmin, Tasso insistiu que outros dados irão pesar na escolha tucana, como a consulta "informal" a parlamentares e governadores. E descartou a realização de prévia. Para Aécio, o preterido será um dos principais cabos eleitorais do PSDB.

Tasso conversou na semana passada com Serra. "Claro que ele é candidato", disse o senador na chegada ao almoço. Mais tarde, corrigiu-se: "Falta uma avaliação mais profunda tanto dele quanto do partido."

NOTA

Alckmin afirmou ontem à noite que o PSDB vai sair "unido e fortalecido" do processo de escolha do candidato, que, segundo ele, "está em boas mãos". O prefeito recusou-se a falar sobre seu futuro político, de manhã, e não quis comentar a reunião.