Título: Ameaça de Chirac de usar a bomba tem apoio e críticas
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Internacional, p. A18

Franceses, no geral, apóiaram. Alemanha, Espanha e Grã-Bretanha, condenaram o discurso

O discurso do presidente Jacques Chirac adaptando a política de dissuasão nuclear francesa aos riscos atuais está provocando fortes reações em países como Alemanha, Grã-Bretanha e Espanha. As reações mais duras estão partindo de um grande número de políticos e editorialistas alemães que contestam a extensão da doutrina de dissuasão francesa a "Estados terroristas".

Se os governos estão silenciosos e constrangidos, os políticos estão à vontade para formular críticas. Para eles, o momento parece ter sido mal escolhido, pois a chamada troika européia (Alemanha, França e Grã-Bretanha) não encontra uma saída para interromper o programa nuclear iraniano. No plano interno, o discurso de Chirac foi aprovado por conservadores e socialistas da oposição, mas condenado pelos verdes e comunistas.

Na Alemanha, país muito sensível ao problema nuclear, políticos e imprensa hesitam entre ceticismo e desaprovação. Um dos responsáveis pela política externa da CDU, o partido da chanceler Angela Merkel, o deputado Andréas Schockenhoff, não acredita que "a ameaça de um ataque seja o instrumento mais apropriado para aumentar a pressão sobre o Ira". Ele está convencido de que Chirac foi longe demais, lembrando que no caso iraniano não houve ruptura formal das negociações.

O ataque mais forte partiu dos verdes alemães que classificaram as declarações de Chirac de "aventureiras e irresponsáveis". Em Londres, o jornal Financial Times disse que Chirac foi claro em sua "ameaça nuclear". Tanto Londres como Paris encontram cada vez mais dificuldades em justificar o próprio arsenal nuclear e, ao mesmo tempo, tentar impedir o acesso do Irã ao ciclo completo do átomo. Já na Espanha, o jornal El País, identifica "uma revisão radical e perigosa da doutrina nuclear francesa", com Chirac fazendo o jogo do presidente George Bush de banalizar o uso da arma nuclear.

Internamente, as declarações do presidente foram aprovadas pela oposição socialista. Para o ex-primeiro-ministro Laurent Fabius, Chirac tem razão em insistir na ameaça grave que constitui o terrorismo, enquanto Jack Lang, um dos pré-candidatos do partido à presidência da república, quer um debate nacional sobre o tema. Já Jean-Pierre Chévénement, ex-ministro da Defesa, aprova o desejo de Chirac de adaptar a dissuasão nuclear.