Título: Campanha tenta reduzir tráfico de animais
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Vida&, p. A22

Governo pretende sensibilizar países que compram os bichos

Depois de constatar que o tráfico de animais pode movimentar até US$ 20 bilhões por ano e que esse comércio passou a usar, em alguns casos, rotas do tráfico de drogas, o governo decidiu alertar outros países para o problema e lançou ontem uma campanha internacional de combate à venda ilegal de animais silvestres. Serão enviados 100 mil folhetos, 50 mil cartazes e relatórios sobre o tráfico de animais às embaixadas e postos do Itamaraty no exterior.

O material contém fotos de animais vendidos no exterior. Cada arara-azul, uma das espécies da fauna brasileira comercializada ilegalmente, chega a ser vendida por US$ 60 mil. Segundo investigação de comissões parlamentares de inquérito abertas no Congresso sobre o assunto, o transporte desses animais passou a seguir a rota do tráfico de drogas por facilitar a comercialização.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), os animais mais traficados são as aves - 80% a 90% do total. Cerca de 38 milhões de animais são retirados ilegalmente das matas brasileiras a cada ano. De cada dez animais, apenas um sobrevive.

"Precisamos conscientizar as pessoas no mundo inteiro que os animais são retirados ilegalmente do Brasil e que não podem ser comprados", afirmou o secretário de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco. Segundo ele, muitas pessoas de boa fé adquirem animais em lojas no exterior e recebem documentos "forjados" de regularização da venda.

Segundo a ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, o comércio ilegal de animais representa uma grande ameaça à biodiversidade, porque várias espécies comercializadas estão ameaçadas de extinção. "A lógica é: as espécies mais caras são aquelas que estão ameaçadas de extinção", declarou.

O governo vai tentar sensibilizar a comunidade internacional com o argumento de que a venda ilegal de animais pode ser responsável pela disseminação em outros países de novas doenças, já que várias espécies comercializadas contaminadas podem estar infectadas. "Como são caçados e comercializados ilegalmente, é claro que não há fiscalização sobre eles", diz Capobianco.