Título: Bush promete na posse acabar com tiranias e defender liberdade
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Internacional, p. A13

O presidente George W. Bush, um político desprovido do sentimento da dúvida, tomou posse diante do Capitólio ontem prometendo restaurar o sentimento de unidade perdido nos últimos anos na política dos EUA e restaurar as relações com os aliados, que sofreram forte desgaste durante seus primeiros quatro anos na Casa Branca. "Os aliados dos EUA devem saber que nós honramos sua amizade, nos fiamos em seu conselho e dependemos de sua ajuda", disse Bush. No discurso de 21 minutos depois de prestar o juramento de lealdade à Constituição diante do chefe da Suprema Corte, William Rehnquist, o 43.º presidente dos EUA - e o 16.º a conseguir um segundo mandato - anunciou, no entanto, uma política de promoção da liberdade no mundo que, se sair da retórica e for traduzida em ações, prenuncia a mais radical e agressiva agenda internacional que um líder americano jamais apresentou. O anúncio causou espanto entre vários analistas. A maneira de levar adiante a guerra global contra o terrorismo é, simplesmente, "acabar com a tirania no mundo" e "levar a liberdade aos recantos mais escuros da Terra", afirmou Bush, falando numa manhã fria perante um público de cerca de 100 mil pessoas que enfrentaram temperatura abaixo de zero numa Washington coberta de neve para assistir à 55.ª posse presidencial nos 229 anos de história do país. Ao contrário do que sua assessoria havia antecipado, o presidente não detalhou sua agenda doméstica, limitando-se a enumerar as ambiciosas reformas que pretende promover no sistema federal de pensões e no regime tributário, sem hierarquizá-las, como uma extensão da agenda mais ampla de promoção da liberdade. Embora legitimado por uma clara vitória nas urnas, que removeu a mancha deixada por sua primeira eleição, decidida na Justiça, Bush enfrenta um cenário político complicado para levar adiante os planos para os próximos quatro anos. Pesquisa da Associated Press põe sua popularidade entre os americanos em 49%, a mais baixa desde a segunda posse de Richard Nixon, em 1973. E as cenas de congraçamento bipartidário oferecidas pelo ritual da posse e no almoço com que a liderança do Congresso homenageou o presidente e seu vice, Dick Cheney, foram uma breve pausa no que promete ser uma pesada luta política, especialmente no Senado, onde os democratas têm cadeiras suficientes para obstruir iniciativas do presidente e dos republicanos. Três ex-presidentes, os democratas Jimmy Carter e Bill Clinton, e o republicano George H. Bush, pai do atual, compareceram ao pomposo ritual, que contou também com a presença, entre as figuras-chaves do Congresso, do senador democrata John Kerry, derrotado por Bush nas eleições de novembro. Houve vários protestos. Num deles, manifestantes alinharam caixões num parque para lembrar os 1366 soldados mortos no Iraque.