Título: Agora, é o presidente do TCU que acusa a Dataprev de corrupção
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Nacional, p. A5

Uma semana depois de o ministro da Previdência Social, Amir Lando, ter declarado ao Estado que há grupos no governo "empenhados em derrubá-lo do cargo por causa de sua batalha contra as fraudes na Dataprev", o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Adylson Motta, apontou a base de dados da empresa como um dos principais focos de corrupção no País. Segundo ele, houve mesmo o caso de um técnico do tribunal que, diante de testemunhas, acessou o sistema com a senha comum de usuário, entrou na listagem de uma aposentadoria comum, de seu pai, alterou o valor e saiu de lá sem ser incomodado. "E tudo isso foi testemunhado", destacou. "Veja a fragilidade do sistema, se ele alterou uma aposentadoria, pode alterar todas porque o sistema é falho."

O desabafo de Lando custou-lhe uma cobrança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião no Palácio do Planalto, e provavelmente o cargo na reforma ministerial, quando poderá ser substituído pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) ou pelo senador Maguito Vilella (PMDB-GO). A Dataprev, por sua vez, divulgou uma nota repudiando a acusação do ministro da Previdência. Na quarta-feira, a Associação Nacional dos Empregados das Empresas de Tecnologia e Informações da Previdência Social também considerou "absurda" a acusação feita por Lando. Agora, a associação está tentando entregar ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, um abaixo-assinado cobrando investimentos na Dataprev.

O presidente do TCU disse que comunicou o episódio da troca de valor da aposentadoria a dois ex-ministros da Previdência, Waldeck Ornelas e Roberto Brant. "Os dois mostraram preocupação ali, na hora, mas a coisa continua", afirmou. "Tem de ser uma fiscalização permanente lá dentro."

Ex-deputado, Motta disse levar em conta situações iguais a essa no trabalho que o TCU vem fazendo para criar uma força-tarefa composta pela Polícia Federal, Ministério Público e outros órgãos para fiscalizar as atividades tidas como os maiores focos de corrupção. "Na Previdência, mesmo que não tenhamos parceria, vamos fazer um acompanhamento permanente."

Motta previu que o ministro será receptivo à medida. "Tenho certeza de que o ministro Amir Lando acolherá a iniciativa com o maior entusiasmo porque ele está preocupadíssimo com as fraudes da Previdência."

Ele insistiu na necessidade de "pôr lá dentro uma equipe do TCU, fazer um acompanhamento permanente com a colaboração de técnicos de lá, do controle externo, da Procuradoria".