Título: Alerj abre os cofres para publicidade
Autor: Fabiana Cimieri
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Nacional, p. A7

Num ano marcado por denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito de deputados estaduais, inclusive do presidente da casa, Jorge Picciani, a Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) aumentou seus gastos com publicidade em 58%, passando de R$ 4,4 milhões em 2003 para R$ 7 milhões em 2004. A Assessoria de Comunicação da Assembléia informou que as despesas com publicidade aumentaram por causa dos custos de veiculação, "que subiram muito mais do que o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado)".

Além disso, a Casa implantou novas atividades, como a TV Alerj - que transmite o dia-a-dia da Alerj 24 horas - e o ônibus da cidadania e do consumidor - que está cada dia num lugar do Estado e já atendeu 5 mil pessoas. "Essas atividades tiveram de ser divulgadas em rádio, TV e mídia impressa", disse a assessoria, frisando que, mesmo com o aumento das despesas, geradas pelo maior volume de trabalho, "a Alerj devolveu R$ 10 milhões aos cofres públicos no final do ano".

Todas as ações publicitárias da Assembléia são executadas pela agência de publicidade V&S, vencedora de licitação em 2001. Antes as despesas eram empenhadas (comprometidas para gastar) pelos próprios deputados, que utilizavam critérios políticos para definir os veículos que receberiam os recursos, muitas vezes os valores pagos estavam muito acima da tabela.

DENÚNCIAS

Além desses argumentos, o investimento na imagem encontra justificativa diante das denúncias que fizeram o ano passado não deixar saudades em nenhum dos deputados da Casa.

O inferno astral da Alerj começou em meados de 2004, com reportagens mostrando a evolução patrimonial dos deputados, muitas vezes incompatíveis com o salário que recebem e que não constam em suas declarações de renda.

O clima piorou quando, meses depois, o empresário dos jogos Carlos Cachoeira, divulgou fitas sobre o presidente da CPI que investigava o caso, deputado Alessandro Calazans (sem partido). Calazans teria pedido dinheiro para modificar o relatório final, que recomendou ao Ministério Público a prisão do empresário.

Cachoeira também divulgou supostas conversas de um interlocutor e do deputado federal André Luiz (PMDB-RJ), indicando que outros membros da CPI e até o presidente da casa, Picciani, sabiam das negociações para alterar o documento. Cachoeira foi a peça-chave do escândalo Waldomiro Diniz - ex-assessor da Casa Civil, flagrado pedindo doações ilegais para campanhas em 2002.

A situação de Calazans piorou quando empresários denunciaram em depoimento informal à deputada Cidinha Campos (PDT) o seu suposto envolvimento e o dos deputados estaduais Domingos Brazão (PMDB) e Jorge Teodoro, o Dica (PFL), com a máfia dos combustíveis.