Título: Beira-Mar é levado para Maceió
Autor: Tânia Monteiro, Ricardo Rodrigues e Kazuo Inoue
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2005, Metrópole, p. C6

Por ordem judicial, o traficante foi retirado de carceragem da Polícia Federal em Florianópolis

O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi transferido ontem de manhã para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal (PF) de Maceió. Ele estava detido em Florianópolis desde 7 de outubro. Esta é a sétima transferência do criminoso dentro do País desde 2002 (Veja nesta página). Beira-Mar foi preso em 2001 na Colômbia. Ontem, por volta das 6 horas, um helicóptero levou o criminoso da sede da PF na capital catarinense para o Aeroporto Hercílio Luz, onde um avião o esperava. Dali ele teria ido para Brasília, conforme informações extra-oficiais, antes de seguir para Maceió.

O superintendente da Polícia Federal de Alagoas, Carlos Rogério Cotta, e o governo estadual não se manifestaram oficialmente ontem sobre a transferência. Mas, segundo informações do plantão da PF, o criminoso chegou à carceragem, que fica no bairro do Jaraguá, por volta das 13 horas.

Ele foi levado para Maceió por agentes do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (COT). A operação da transferência de Beira-Mar de Santa Catarina para Alagoas foi realizada, ontem, sob extremo sigilo para evitar problemas de segurança. Até o início da noite de ontem, ele era mantido incomunicável. Oficialmente, a PF não informou qual é o prazo previsto para a permanência do traficante em Alagoas.

VOLTA

Esta é a segunda vez que Beira-Mar fica preso em Maceió. Em 27 de março de 2003, o deslocamento dele para a capital alagoana foi autorizada pelo governador Ronaldo Lessa (PDT) a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, nenhum Estado queria recebê-lo, por causa dos problemas que vinha causando ao sistema penitenciário do Rio, onde estava desde 2002. Ele foi acusado de incitar uma rebelião.

O traficante estava na carceragem da Polícia Federal de Florianópolis desde 7 de outubro, onde chegou de surpresa, escoltado por uma equipe de 16 policiais federais, que também permaneceram na cidade.

Desde agosto, havia boatos de que isso poderia acontecer, o que provocou imediato protestos das autoridades municipais e estaduais. Na época, o governador Luiz Henrique da Silveira chegou a mandar ofício para o Ministério da Justiça para que a remoção não fosse feita.

A permanência de Beira-Mar em Florianópolis, no prédio vizinho à residência oficial do governador, foi acompanhada de várias tentativas de obrigar a Polícia Federal a retirá-lo.

A prefeitura queria interditar a carceragem, sob a alegação de que o habite-se do edifício autorizava apenas presos temporários nas celas e não criminosos cumprindo pena. Em seguida, várias ações judiciais também tentaram forçar a transferência do traficante.

A última tentativa foi feita no dia 21 deste mês, quando o governo catarinense pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para autorizar o retorno do traficante ao presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, no Estado de São Paulo. De acordo com a Procuradoria do Estado, a permanência de Beira-Mar na cidade era ilegal e representava grave risco à população.

TRAFICANTE TEVE US$ 10 MILHÕES EM BANCOS

CONEXÃO AMAZÔNICA: Em abril de 2001, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi preso em Guainía, na fronteira de Brasil e Venezuela, território sob domínio das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Antes de ser preso, o traficante era o maior atacadista de drogas do País. Estimativas apontavam que ele controlava entre 60% a 75% da cocaína distribuída no eixo São Paulo-Rio-Minas Gerais.

Quando fugiu do presídio de segurança máxima em Belo Horizonte, em 1996, Beira-Mar, 10 filhos, três amantes, foi viver no Paraguai. Pela fuga, segundo a polícia, ele pagou R$ 500 mil. Na época de sua prisão, promotores de Belo Horizonte descobriram que o traficante tinha um patrimônio de US$ 10 milhões, entre carros, linhas telefônicas e contas bancárias espalhadas por agências de três Estados. Numa delas, aberta em nome dos filhos, a PF encontrou US$ 2 milhões.

Entre o fim de 1999 e começo de 2000, Beira-Mar foi viver entre os ribeirinhos do Guaviare, na Amazônia colombiana, não muito longe da fronteira com o Brasil. Vendia cocaína com grau de pureza superior ao da concorrência para Comando Vermelho (CV), em sociedade com as Farcs. Depois de preso, na superintendência da PF em Brasília, ele ainda controlava o comércio atacadista de drogas, o que levou às autoridades a lutar para mantê-lo em presídios de segurança máxima.