Título: Avestruz Master garante que vai honrar compromissos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2005, Economia & Negócios, p. B7

Sócios da empresa, sumidos desde sexta-feira, reaparecem e divulgam nota

Depois de dois dias de silêncio, a empresa Avestruz Master, que vende Cédulas de Produto Rural (CPRs) a investidores que acreditam poder ter lucro com a criação de avestruzes, divulgou nota em que pede calma aos clientes e garante que honrará os compromissos. O texto, assinado pelo sócio-proprietário do grupo Jerson Maciel Júnior, garante que a empresa passa por um processo de "reorganização" e deve reabrir esta semana. A empresa amanheceu fechada na sexta-feira e causou pânico aos investidores em oito Estados - Goiás, Tocantins, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, Bahia e Mato Grosso. Maciel garante, na nota, que a empresa vai "tomar as medidas necessárias para evitar quaisquer prejuízos e manter os negócios".

A nota afirma que "em nenhum momento" houve fuga dos sócios e deixa a entender que o sumiço de dois dias ocorreu por problemas de segurança. "Informações precipitadas provocaram um clima de tensão entre nossos clientes e, por isso, foram tomadas medidas para garantir a integridade física de todos." "O Grupo Avestruz Master não paralisou as atividades de forma definitiva, conforme noticiado", informou.

O texto esclarece que todos os diretores estão reunidos desde sexta-feira com o departamento jurídico para estudar uma saída para reabrir a empresa com "o objetivo de definir ações necessárias para evitar maiores problemas na relação entre empresa e clientes".

Maciel Júnior criticou os saques e as apreensões de bens do grupo ocorridos na sexta-feira e no sábado em Goiás, Minas Gerais e no Tocantins, sede de algumas de suas empresas. "Atos de vandalismo retardam soluções definitivas."

APREENSÃO

A Justiça de Goiás determinou a apreensão de todos os bens da Avestruz Master e das outras 24 empresas do grupo em oito Estados. A decisão, aliada ao bloqueio das contas bancárias do grupo, visa a garantir o ressarcimento dos investidores na empresa. Até sábado, pelo menos quatro decisões da Justiça goiana determinavam bloqueio de contas, bens e apreensão de aves do grupo.

O juiz Divino Sério Carvalho, da 12ª Vara Cível, entendeu que havia risco de os sócios da empresa se ausentarem "furtivamente", uma vez que estavam desaparecidos desde sexta-feira e nenhum comunicado oficial havia sido divulgado. "Podemos constatar que as notícias de dificuldades financeiras do grupo passaram a gerar instabilidades junto aos investidores, o que pode causar tumulto", justificou.

Em 2004, a Avestruz foi condenada a indenizar a ex-cliente Karine Dias Dziedcz por danos materiais e morais. A empresa vendia avestruzes por meio de Cédulas de Produto Rural (CPRs), para o qual, segundo a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), não era autorizada.

Os clientes compravam as aves para resgatar o dinheiro num prazo de 3 a 9 meses. Quando o prazo vencia, o cliente poderia ficar com a ave ou revendê-la à empresa com lucro de cerca de 11% ao mês.

VISIONÁRIO: O homem que levou a avestruz para o Planalto Central já foi considerado um visionário pelos deputados estaduais goianos, que há sete meses concederam o título de cidadão goiano ao paulista Jerson Maciel. Afinal, além de aves, ele levou para milhares de clientes em oito Estados a chance de enriquecer rapidamente comprando títulos que valem avestruzes, com rendimento de 11% ao mês. Maciel ergueu seu império Master, que engloba fazendas para criação de avestruz, há sete anos em Goiás. Nesse período, construiu 25 empresas em Goiás e sete em outros Estados, todas ligadas à cadeia de consumo da carne e do couro da ave. Seu próximo empreendimento é um abatedouro e frigorífico, o Struthio Gold, com inauguração marcada para o dia 19 em Bela Vista, a 45 quilômetros de Goiânia. O projeto consumiu cerca de US$ 20 milhões. O empreendimento tem capacidade para abater até mil aves por dia e tinha expectativa de empregar 500 pessoas. Maciel iniciou o negócio com a importação, da África do Sul, de 300 aves. Em 1998, inaugurou sua primeira fazenda-criatório, com 10 mil animais. O local atende a padrões internacionais de sanidade animal e conta com incubadoras para ovos e berçários de alta tecnologia. Maciel e sua família eram vistos com freqüência na região bordo de carros de luxo, jatinhos e helicópteros.