Título: Amazônia some bem mais do que se vê
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2005, Vida&, p. A20

CORTE: O Ibama notificou oito siderúrgicas no Pará e no Maranhão por não comprovarem a origem legal do carvão vegetal que alimenta seus fornos e não apresentarem programas de reflorestamento. O valor ultrapassa R$ 500 milhões. São elas: Cosipar, Simara, Usimar e Ibérica, no Pará; e Viena, Fergumar, Gusa Nordeste e Cosima, no Maranhão. A multa deriva de um relatório do órgão, divulgado há um mês, que revela déficit entre a quantidade de carvão que elas precisam para a produção e quanto é legalmente declarado. O excedente vem do corte ilegal. O diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, admite que a multa pode não se converter em dinheiro - muitas se convertem em ações de recuperação -, mas diz que é um exemplo da mudança de foco: em vez de se aplicar multas por problemas pontuais, como um flagrante, todo o setor é analisado pela produção total.

Enquanto o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulga, nos últimos meses, que o desmatamento da Amazônia tem mostrado sinais de fraqueza, um estudo publicado hoje na revista americana Science (www.sciencemag.org) mostra que árvores são derrubadas silenciosamente em um ritmo duas vezes mais rápido do que se pensava.

Pesquisadores americanos e brasileiros apresentam, em um artigo conjunto, um novo método de detecção do corte seletivo, aquele que deixa a floresta careca, mas não pelada, pois visa apenas a espécie de alto valor comercial. Segundo eles, este tipo de atividade representaria um aumento de 60% a 123% da área desmatada na Amazônia entre 1999 e 2002.

O novo sistema usa dados de três satélites diferentes para perceber mudanças sutis na cobertura vegetal, com uma margem de erro de até 14%. O resultado é um mapa que expõe o corte em uma grande área difusa.

O grupo comparou os dados obtidos com a taxa oficial de desmatamento anual fornecida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) - cujo método não prevê a detecção do corte seletivo, e sim o raso, aquele em que há a total mudança do solo. Apesar de serem sistemas diferentes, um dos líderes do estudo, Gregory Asner, do Instituto Carnegie de Washington, na Califórnia, defende que as informações podem - e devem - ser somadas. "Espero que este trabalho ajude a construir melhores modelos científicos para detectar o desmatamento na Amazônia", disse ao Estado. As informações serão disponibilizadas para o governo brasileiro, diz ele, que faz questão de frisar que um dos autores do estudo trabalha em um órgão federal: José Natalino da Silva, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O Inpe divulgou uma nota em que afirma existir "várias inconsistências" na metodologia apresentada na Science e afirma que "os valores publicados estão superestimados".

O diretor do Programa Nacional de Florestas do MMA, Tasso Azevedo, concorda com a crítica do Inpe, especialmente quanto ao volume de madeira retirada por ano: entre 27 e 50 milhões de metros cúbicos, o que lançaria 100 milhões de toneladas cúbicas de carbono na atmosfera. Azevedo diz que o número real está próximo do limite inferior. "Em 2004, calculamos um volume em torno de 24 milhões de m3."

Somatória à parte, ele admite que o trabalho apresenta uma boa proposta para que, afinal, o corte seletivo seja colocado na conta do desmatamento. "Há outros grupos, inclusive no Brasil, desenvolvendo sistemas para fazer esta mesma conta, permitindo enxergar mais do que vemos hoje."

Hoje, cerca de 40% somente do corte seletivo é feito com autorização. A prática costuma ser indicada como um dos primeiros passos do processo de desmatamento amazônico - na esteira, vêm o setor agropecuário e as carvoarias, por exemplo, que com freqüência aproveitam estradas abertas por quem os precedeu na região. Ibama multa siderúrgicas por uso de carvão ilegal Conclusão é de estudo de americanos e brasileiros; o ritmo de derrubada das árvores é duas vezes maior do que se pensava AMBIENTE C.A.

Cristina Amorim CORTE: O Ibama notificou oito siderúrgicas no Pará e no Maranhão por não comprovarem a origem legal do carvão vegetal que alimenta seus fornos e não apresentarem programas de reflorestamento. O valor ultrapassa R$ 500 milhões. São elas: Cosipar, Simara, Usimar e Ibérica, no Pará; e Viena, Fergumar, Gusa Nordeste e Cosima, no Maranhão. A multa deriva de um relatório do órgão, divulgado há um mês, que revela déficit entre a quantidade de carvão que elas precisam para a produção e quanto é legalmente declarado. O excedente vem do corte ilegal.

O diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, admite que a multa pode não se converter em dinheiro - muitas se convertem em ações de recuperação -, mas diz que é um exemplo da mudança de foco: em vez de se aplicar multas por problemas pontuais, como um flagrante, todo o setor é analisado pela produção total.

Enquanto o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulga, nos últimos meses, que o desmatamento da Amazônia tem mostrado sinais de fraqueza, um estudo publicado hoje na revista americana Science (www.sciencemag.org) mostra que árvores são derrubadas silenciosamente em um ritmo duas vezes mais rápido do que se pensava.

Pesquisadores americanos e brasileiros apresentam, em um artigo conjunto, um novo método de detecção do corte seletivo, aquele que deixa a floresta careca, mas não pelada, pois visa apenas a espécie de alto valor comercial. Segundo eles, este tipo de atividade representaria um aumento de 60% a 123% da área desmatada na Amazônia entre 1999 e 2002.

O novo sistema usa dados de três satélites diferentes para perceber mudanças sutis na cobertura vegetal, com uma margem de erro de até 14%. O resultado é um mapa que expõe o corte em uma grande área difusa.

O grupo comparou os dados obtidos com a taxa oficial de desmatamento anual fornecida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) - cujo método não prevê a detecção do corte seletivo, e sim o raso, aquele em que há a total mudança do solo. Apesar de serem sistemas diferentes, um dos líderes do estudo, Gregory Asner, do Instituto Carnegie de Washington, na Califórnia, defende que as informações podem - e devem - ser somadas. "Espero que este trabalho ajude a construir melhores modelos científicos para detectar o desmatamento na Amazônia", disse ao Estado. As informações serão disponibilizadas para o governo brasileiro, diz ele, que faz questão de frisar que um dos autores do estudo trabalha em um órgão federal: José Natalino da Silva, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O Inpe divulgou uma nota em que afirma existir "várias inconsistências" na metodologia apresentada na Science e afirma que "os valores publicados estão superestimados".

O diretor do Programa Nacional de Florestas do MMA, Tasso Azevedo, concorda com a crítica do Inpe, especialmente quanto ao volume de madeira retirada por ano: entre 27 e 50 milhões de metros cúbicos, o que lançaria 100 milhões de toneladas cúbicas de carbono na atmosfera. Azevedo diz que o número real está próximo do limite inferior. "Em 2004, calculamos um volume em torno de 24 milhões de m3."

Somatória à parte, ele admite que o trabalho apresenta uma boa proposta para que, afinal, o corte seletivo seja colocado na conta do desmatamento. "Há outros grupos, inclusive no Brasil, desenvolvendo sistemas para fazer esta mesma conta, permitindo enxergar mais do que vemos hoje."

Hoje, cerca de 40% somente do corte seletivo é feito com autorização. A prática costuma ser indicada como um dos primeiros passos do processo de desmatamento amazônico - na esteira, vêm o setor agropecuário e as carvoarias, por exemplo, que com freqüência aproveitam estradas abertas por quem os precedeu na região.