Título: Assessor de Lula depõe e CPI quer acareação com irmãos do prefeito
Autor: Rosa Costa e Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2005, Nacional, p. A14

O líder do PFL, José Agripino, quer uma acareação entre o chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, e os dois irmãos de Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado em janeiro de 2002: Bruno e João Francisco Daniel. Ontem, em depoimento fechado à CPI dos Bingos, Carvalho desqualificou o médico João Francisco, que há mais de dois anos tem dito que ouviu dele, Carvalho, em três ocasiões, informações sobre esquema de extorsão de empresas contratadas pela prefeitura para financiar campanhas do PT. Carvalho contou que teve cinco encontros com parentes do prefeito depois do assassinato. Mas negou ter falado com qualquer pessoa sobre esquema de extorsão. Agripino sugeriu ao chefe de gabinete de Lula que proponha acareação entre ele e os dois irmãos. "Ele (Carvalho) disse que iria refletir raciocinar e depois daria a resposta", disse o líder. Se for negativa, Agripino afirmou que o PFL vai propor acareação em sessão aberta.

Como depôs em sessão reservada, Carvalho teve suas declarações transmitidas pelos senadores. Segundo eles, o chefe de gabinete de Lula acusou João Francisco de fazer lobby na prefeitura para uma empresa de ônibus e de criar dificuldades para o prefeito. "Ele detalhou a dificuldade no relacionamento dos dois", afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Teria dito ainda, de acordo com o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que o prefeito chegou a pedir a João Francisco que não o procurasse.

Carvalho poupou de críticas o outro irmão do prefeito, Bruno Daniel. Mas não soube explicar por que Bruno confirmou que ele, Carvalho, havia dito que Daniel foi assassinado por querer acabar com a corrupção que alimentava o caixa 2 do PT.

Também em depoimento à CPI, o médico João Francisco disse que ele, seu irmão Bruno e uma outra pessoa ouviram Carvalho afirmar que morria de medo quando ia em seu Corsa preto entregar o dinheiro da propina ao então presidente do PT, José Dirceu. "A única coisa que ele confirmou é que tinha um Corsa preto", disse o senador José Jorge (PFL-PE). "No mais, fez como a maioria dos que vêm aqui depor desmentindo as acusações e dizendo somente o que lhe é apropriado."

Carvalho foi categórico ao afirmar que Celso Daniel foi vítima de uma crime comum, como concluiu a Polícia Civil de São Paulo, na primeira investigação, reaberta mês passado, a pedido do Ministério Público.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que Carvalho falou sobre um dossiê apócrifo com denúncias de irregularidades. "Ele disse que encaminhou o dossiê a Daniel, como era de sua função", contou. "Disse ainda não acreditar que Daniel tenha preparado dossiê sobre irregularidades na prefeitura."