Título: BC emite sinais de queda do juro
Autor: Gustavo Freire e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

BRASÍLIA - A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, alimentou as expectativas do mercado de que a taxa de juros começará a cair já na próxima reunião, em setembro. O documento não faz essa afirmação, mas indica a tendência, ao traçar um cenário otimista para a evolução da economia e das taxas de inflação nos próximos meses. A taxa de juros básica do País, a Selic, está em 19,75% desde maio passado. A exemplo do que ocorreu no mês passado, a ata não menciona a crise política nem os riscos que ela traz para a economia. No entanto, desde o fim de julho, a crise vem fazendo oscilar as cotações da bolsa, do dólar e dos papéis da dívida externa. Além disso, a ata reflete uma avaliação feita na quarta-feira da semana passada, quando o advogado Rogério Buratti ainda não havia lançado o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no centro da crise.

As esperanças de queda na taxa de juros cresceram principalmente porque a ata não trouxe a expressão "manutenção de juro por tempo suficientemente longo", que constava dos documentos anteriores e vinha sendo apontada como sinal de continuidade do aperto monetário. Em vez disso, o texto diz apenas que o Copom acompanhará a evolução das perspectivas de inflação, até a reunião de setembro, para definir os próximos passos da política monetária.

Embora a projeção para o IPCA neste ano ainda esteja acima da meta de 5,1%, as estimativas do mercado financeiro e do próprio Banco Central têm caído sucessivamente, aproximando-se daquele objetivo. A ata salienta que essa melhora veio da "surpresa positiva" na inflação de julho, quando vários índices indicaram deflação, e da reestimativa para os reajustes de preços administrados - luz, telefone, ônibus, gás - até dezembro.

O documento chama a atenção ainda para o recuo das expectativas do mercado para a inflação de 2006. Depois de terem se mantido em 5% por 64 semanas, elas recuaram nesta semana para 4,98%, conforme pesquisa do Banco Central.

Para o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, a ata aponta para o sucesso da política monetária. Segundo ele, isso reforça as perspectivas positivas da economia e a possibilidade de crescimento.

O texto da ata ressalta que "a atividade econômica deve continuar em expansão, mas num ritmo compatível com as condições de oferta", numa indicação de que os membros do Copom não vêem necessidade de usar juros altos para refrear a demanda e conter pressões inflacionárias. O Copom também avaliou que o cenário externo se mantém favorável, mesmo com a alta dos preços do petróleo, e que a demanda internacional continuará contribuindo para a expansão das exportações e para o crescimento do País.