Título: Bingos financiaram campanha de Lula
Autor: Brás Henrique e Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Nacional, p. A5

RIBEIRÃO PRETO - Além de acusar o ministro Antonio Palocci de receber propinas como prefeito de Ribeirão Preto, Rogério Tadeu Buratti surpreendeu e denunciou ontem a existência de um esquema de arrecadação de dinheiro, com casas de bingos de São Paulo e Rio de Janeiro, em 2002, para a campanha do então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E informou ainda que a multinacional Gtech ofereceu até R$ 16 milhões em propina, a ser destinada ao PT, para a renovação do contrato de loterias com a Caixa Econômica Federal, no início de 2003. O esquema não vingou porque Palocci disse que iria interferir, "pois era um assunto técnico vinculado à Caixa", segundo o depoimento de Buratti. Os dois esquemas teriam a participação direta de Ralf Barquete dos Santos, que, à época da campanha eleitoral era secretário da Fazenda de Palocci em Ribeirão Preto, e em 2003 era um dos assessores da presidência da Caixa. Na arrecadação da campanha, Santos, amigo pessoal de Buratti, teria arrecado R$ 1 milhão em São Paulo. Buratti reafirmou que não conhece Waldomiro Diniz, que teria coordenado a arrecadação no Rio com as casas de bingo. "A contribuição foi encaminhada diretamente ao Comitê Financeiro da campanha, na sede nacional do PT, e o comitê era coordenado por Delúbio Soares (ex-tesoureiro do partido)", relata o depoimento de Buratti. "O interesse das contribuições era a regulamentação do jogo do bingo no Brasil", diz o texto - o que não ocorreu. "Pelas informações de que disponho as indicações das pessoas que iriam coordenar a área de loterias da Caixa Econômica Federal aconteceu (sic!) somente pelo grupo do Rio de Janeiro", indica outro trecho do depoimento.

No caso Gtech/Caixa, Buratti foi procurado por Santos para fazer o papel de interlocutor com a multinacional e confirmou que antes já sabia da proposta por ter sido procurado pelo advogado Enrico Gianelli. Foi Buratti, então, que negociou, em Brasília, a proposta com o diretor Marcelo Rovai. A proposta de propina variava de R$ 500 mil a R$ 16 milhões ao longo do contrato, previsto para durar 25 meses. O valor final dependia do prazo do contrato. A propina seria destinada integralmente ao PT, mas que não seria para campanha eleitoral. Buratti negociaria depois a sua parte, de acordo com os promotores.

"Pela informação que eu tive, esse grupo foi orientado pela Caixa a procurar o ministro Palocci para melhorar as condições de contrato. Entretanto, Palocci respondeu, por meio de Ralf, que não iria interferir nesse assunto", disse Buratti no depoimento, que ratifica que todas as informações foram obtidas em decorrência do relacionamento dele com Santos, que era amigo antigo e pessoal. Segundo o promotor Sebastião Sérgio da Silveira, o depoimento é convincente, mesmo com Buratti não apresentando documentos e provas materiais que embasem as suas acusações. "Essas coisa nunca têm documento", comentou Silveira. "Ele não está atribuindo tudo ao Ralf (Santos), ele (Buratti) participou, conversou com Marcelo Rovai, entabulou o negócio, levou a proposta da Gtech de volta ao Ralf, que teria consultado o ministro e ele (Palocci) não quis se envolver e aí o negócio não andou."