Título: 'Lula esconde a sujeira embaixo do tapete', diz Bicudo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2005, Nacional, p. A6

Jurista e petista histórico diz que presidente usou pronunciamento de sexta-feira para dissimular verdade sobre caixa 2 no PT

O jurista Hélio Bicudo garante que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um homem centralizador e "sempre foi o presidente de fato" do PT. Agora, diante das mais graves denúncias que já atingiram o partido, Bicudo não tem dúvidas de que ele não só sabia das operações de caixa 2 para financiar suas campanhas como atua para que a verdade não venha à tona. Em entrevista à revista Veja, Bicudo sustenta que Lula "esconde a sujeira embaixo do tapete". Para o ex-vice-prefeito de São Paulo, petista desde a fundação do partido, é "impossível" que Lula "não soubesse como os fundos estavam sendo angariados e gastos e quem era o responsável". O pronunciamento de sexta-feira, argumentou o jurista, é exemplo das tentativas do presidente de camuflar a realidade: "Ele é mestre em esconder a sujeira embaixo do tapete. Sempre agiu dessa forma. Seu pronunciamento de sexta-feira confirma. Lula manteve a postura de que não faz parte disso e não abre espaço para uma discussão pública."

Há mostras anteriores do mesmo estilo do presidente, revela Bicudo. "Em 1997, presidi uma comissão de sindicância do PT para apurar denúncias contra o empresário Roberto Teixeira, que estava usando o nome de Lula para obter contratos de prefeituras em São Paulo. A responsabilidade dele ficou claríssima. Foi pedida a instalação de uma comissão de ética, e isso foi deixado de lado por determinação de Lula, porque Roberto Teixeira é compadre dele", declarou o jurista. "O único punido foi o Paulo de Tarso Venceslau, autor da denúncia. Ainda que não existisse necessariamente um crime, havia um problema sério, ético, político, que tinha de ter sido discutido e não foi. Essas coisas todas vão se acumulando e, no final, acontece o que se vê hoje."

SANTO ANDRÉ

Bicudo também lança dúvidas sobre a versão do PT para o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2000. "A história de Santo André ainda não está clara. Houve uma intervenção do próprio partido para caracterizar o crime como crime comum, do que eu discordo", afirmou. "Houve a eliminação do Celso, ou porque ele não concordava com a corrupção ou porque ele quis interromper o processo num determinado ponto."

A partir da campanha de 1998, disse ele, instalou-se de vez no PT, com apoio de Lula, "a política de atingir o poder a qualquer preço". questiona as ações do partido depois de assumir a Prefeitura de São Paulo e a Presidência. Bicudo define sua experiência ao lado de Marta Suplicy como "extremamente negativa". Já Lula "dividiu o governo": "A conseqüência foi o aparelhamento do Estado, um governo sem projeto e essa tática de alcançar resultados pela corrupção do Congresso."

Bicudo acredita que os fatos podem suscitar um pedido de impeachment de Lula, mas o processo só será concretizado se houver pressão popular.