Título: Acuado, Lula já teme que crise afete a economia
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou ontem boa parte do dia a analisar a crise política. A preocupação é tão grande que o Palácio do Planalto chegou a procurar, ainda pela manhã, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para verificar se a intranqüilidade do mercado, verificada no dia anterior, que registrou alta do dólar e elevação do risco Brasil, continuava sendo contaminada pela instabilidade política ou se tratava de uma oscilação normal. A informação que ele recebeu foi de que as coisas estavam um pouco mais tranqüilas e que não poderia haver uma caracterização de que a economia do País não havia sido afetada. Mas isso não chegou a acalmar o governo que continuou o resto do dia aguardando a evolução dos fatos, principalmente o depoimento da mulher do empresário Marcos Valério, Renilda Santiago. O ânimo trazido com as notícias matinais de que havia integrantes do PSDB entre os beneficiados pelas empresas de Marcos Valério não durou muito porque Renilda informou, no início do seu depoimento, que o ex-ministro da Casa Civil deputado José Dirceu havia participado de reuniões com seu marido para tratar de empréstimos ao PT, demonstrando que o Planalto sabia das transações financeiras.

O presidente Lula tentou demonstrar que cumpria agenda normal de trabalho. Participou de um almoço no Itamaraty no qual brindou o fortalecimento das relações entre o país africano chamado Botsuana e o Brasil e fez um discurso sem citar a crise. Antes, iniciou seu dia com um café da manhã na Granja do Torto com o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, e o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Ao receber os dois, o presidente já foi avisando: "Não quero nem saber de crise. Quero boas notícias". Na conversa, Severino mostrou-se muito preocupado com o andar acelerado da crise, que atinge a imagem do Congresso e um número enorme de deputados. Lula pediu para que se trabalhe uma agenda positiva, com votações das reformas políticas e tributária e a votação do Estatuto das micro e pequenas empresas e voltou a dizer que é importante que o País não pare, enquanto a CPI faz seu trabalho.

A maior preocupação do governo é com a lista de parlamentares que teriam sido beneficiados com empréstimos de Marcos Valério e estaria em mãos do presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Lula e Jobim conversaram durante almoço no Itamaraty e, depois, o presidente se reuniu com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci; da Secretaria de Relações Institucionais,Jacques Wagner; da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e da Casa Civil, Dilma Rousseff. Qualquer novo pronunciamento do governo, só depois da divulgação da lista, que teria pelo menos 50 nomes do PT.