Título: Cresce a pressão pela saída de Abi-Ackel da CPI
Autor: Ana Paula Scinocca e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A9

Aumentou ontem a pressão para que o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) abra mão da relatoria da CPI do Mensalão. Procurado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e pelo líder do governo na Casa, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), recebeu de ambos o mesmo conselho: articular o mais rápido possível a troca do relator. "Abi-Ackel está impedido de ser relator", argumentou Mercadante, ao citar reportagem da revista Época em que Abi-Ackel aparece como beneficiário de duas doações, no total de R$ 150 mil, feitas em 1998 pela agência SMPB, uma das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão.

Apesar da pressão para que deixe o cargo, Abi-Ackel disse ontem que fica na relatoria. Em nota de esclarecimento, afirmou que a contribuição foi feita pelo setor financeiro da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas Gerais, em parceria com Clésio Andrade (PL), candidato a vice.

Mas Mercadante insistiu que, a despeito da experiência e do conhecimento jurídico de Abi-Ackel , o relator exerce um papel de magistrado no processo e que o envolvimento de seu nome nas denúncias é incompatível com a relatoria.

Ele e Renan também cobraram a presença de Lando em Brasília. O presidente da CPI do Mensalão decidiu aguardar em uma fazenda no interior de Rondônia a chegada de documentos requisitados à CPI dos Correios para, só então, dar início às investigações.

Para engrossar a pressão contra o relator, outro integrante da CPI e vice-líder do PDT na Câmara, Pompeo de Mattos (RS), protocolou um requerimento no qual solicita sua substituição. Em documento enviado ao presidente da CPI, Mattos argumenta que "as investigações não podem ter sua relatoria a cargo de parlamentar sobre o qual pesam suspeitas".

O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), saiu em defesa de Abi-Ackel, destacando que em 1998 a SMPB era uma empresa insuspeita e que está claro que foi uma contribuição de campanha, nada tendo a ver com o mensalão.

"Aceitei o convite (para ser relator) porque houve consenso em relação ao meu nome, mas não por prazer", afirmou Abi-Ackel. "Esse lugar (a relatoria) não é agradável. É um cargo difícil e pode ser muito cruel."