Título: 36 milhões não acharão emprego nos países da OCDE em 2006
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2005, Economia & Negócio, p. B7

O crescimento do emprego nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) será lento neste ano e no próximo. Por isso, o número de desempregados será reduzido em apenas 1 milhão de pessoas, enquanto 36 milhões continuarão desempregadas ao fim de 2006. Esta é a principal conclusão do relatório 'Perspectivas do Emprego' a curto prazo publicado ontem pela OCDE, que insiste nas disparidades entre países. A taxa de desemprego no conjunto dos 30 países-membros continuará neste ano em 6,7% da população ativa, para seguir sua lenta queda em direção aos 6,4% em 2006, com uma melhora líquida nos Estados Unidos, onde o desemprego ficará em 5,5% e 4,8%, respectivamente. No Japão, esse índice também cairá de 4,7% em 2004 para 4,1% em 2006, enquanto nos 19 países da União Européia (UE) que fazem parte da OCDE haverá aumento, passando de 9% em 2004 para 9,1% neste ano, antes de cair para 8,8% em 2006.

Com relação a salários, a OCDE espera para este ano um aumento moderado similar aos 3,1% de 2004. Os custos unitários da mão-de-obra tiveram um importante esfriamento em 2004, com média de crescimento de 0,5% nos 30 países-membros, e até diminuíram em alguns países europeus que tiveram fortes aumentos de produtividade. Os autores do estudo prevêem uma aceleração desses custos em todos os países europeus, com exceção de Alemanha, Finlândia e Holanda.

GLOBALIZAÇÃO

A globalização da economia com as transferências de empresas é responsável por 4% a 17% da eliminação de postos de trabalho, segundo o relatório, mas isto é compensado com as atividades suplementares e criação de novos empregos. Esta é uma das principais mensagens que a OCDE quer passar. O órgão insiste que é preciso aplicar políticas de ajuste para ajudar os que sofrem os efeitos negativos dessa globalização.

A eliminação de postos por causa da saída de empresas dos países da OCDE "existe mas não é muito alta", disse em entrevista o responsável pelo relatório, Raymond Torres. Para o diretor da divisão de empregos da OCDE, John Martin, a liberalização das trocas comerciais "traz alguns custos de ajuste no mercado de trabalho", mas, de acordo com a teoria econômica e a experiência, "são um motor de crescimento do emprego".

"Não consta que houve uma grande perda" de vagas no passado, e os que ficavam sem emprego encontravam trabalho em outros países, afirmou Martin, indicando onde é possível gerar atividade suplementar nos países da OCDE. Ele ressaltou que, no mercado de serviços, os países desenvolvidos têm "vantagens comparativas" antes a outros em desenvolvimento que oferecem mão-de-obra mais barata. Essa vantagem existe, explicou, porque o nível de educação da população dos países desenvolvidos é maior e estes têm maior capacidade de inovação, em particular em novas tecnologias, têm economias dinâmicas e atrações turísticas para consumidores de países emergentes.

A avaliação do passado também mostra que, para as pessoas que perderam o emprego por causa das transferências de empresas, encontrar um novo trabalho era mais difícil na Europa que nos EUA. Mas, neste país, essas pessoas tinham um salário bem menor nos novos empregos.

Na Europa, de 1994 a 2001, de 42,8% a 48,2% dessas pessoas não tinham encontrado emprego após dois anos sem trabalho - porcentagem mais de dez pontos maior que nos EUA. A perda salarial para os que conseguiam uma vaga de trabalho após terem perdido o emprego por causa das transferências de empresas era de 3,8% a 13,2% nos EUA, de acordo com o setor, e na Europa variava de 0,1% a 7,3%.

Para enfrentar os efeitos negativos da globalização no emprego, a OCDE defende a adoção de políticas de ativação para os desempregados que combinem incentivos para a procura ativa de trabalho e sanções caso isso não seja feito. Paralelamente, "é preciso haver prestações que dêem um claro estímulo financeiro" na volta ao mercado de trabalho, disse Martin, lembrando alguns países que diminuem os impostos sobre a renda em até mais de 20%.