Título: Dólar fraco ameaça vendas de linha branca
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2005, Economia, p. B10

Fabricantes de produtos eletroeletrônicos da linha branca (geladeiras, freezers, fogões, lavadoras e microondas) ameaçam frear a produção e os investimentos por causa da persistente valorização do real em relação ao dólar. Levantamento da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) indica que as empresas podem deixar de exportar quase 1 milhão de produtos este ano, por causa da perda de competitividade provocada pelo dólar baixo. Esse número corresponde à perda de contratos num valor total de US$ 150 milhões, o equivalente a mais de um terço das vendas externas em 2004 (US$ 426 milhões). "A queda acentuada do dólar colocou a indústria de linha branca em uma situação insustentável", diz Paulo Saab, presidente da Eletros. Para não terem prejuízo, as empresas reajustaram seus preços em dólar entre 14% e 20%. Em contrapartida, perdem vendas no mercado externo. "O setor perde duplamente com essa situação, tanto em receitas como em volumes", ressalta Saab.

Nessas circunstâncias, as empresas já estão desativando linhas de produção e demitindo empregados. Segundo levantamento da Eletros, os associados estimam que as dispensas deverão atingir de 300 a 350 trabalhadores do setor até o fim do ano.

Além da perda de exportações e das demissões, a valorização do real provoca o adiamento e até cancelamento de projetos de investimento. Nos últimos dois meses, o País já perdeu US$ 35 milhões em investimentos em linhas de produção, que seriam dedicadas exclusivamente ao mercado externo, de acordo com estimativa da Eletros.

"É só o começo de um ciclo de perdas, já que falta ao governo entender que disputamos a atração de investimentos globais com outros países emergentes, que oferecem estabilidade nas regras e nos fundamentos da economia", afirma o presidente da entidade.

De acordo com Saab, quando a matriz de uma multinacional instalada aqui decide direcionar os investimentos para outro país, o Brasil perde a oportunidade de elevar o valor agregado das exportações e de gerar empregos por pelo menos cinco anos. Esse é o tempo mínimo de retorno sobre os investimentos que deixaram de ser feitos.

O cancelamento de exportações afeta embarques para a América Latina, Ásia, Oriente Médio e América do Norte. Outra conseqüência da falta de continuidade nas exportações é que fica muito difícil recuperar as participações perdidas em mercados disputados como o norte-americano.

Para o presidente da Eletros, mais uma vez o Brasil pode ser visto como fonte pouco confiável, dada a exagerada volatilidade nas condições competitivas. Mantido o quadro de depreciação do dólar, a situação deverá se agravar. "As perdas maiores deverão acontecer no longo prazo, pois o impacto no volume de exportação será sentido com mais força a partir dos próximos dois anos."