Título: Marina diz que esquema é anterior a sua gestão
Autor: Lígia Formenti e Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Nacional, p. A4

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, procurou desvincular de sua gestão o esquema de fraude e corrupção desbaratado pela Operação Curupira. Fez questão de afirmar que a quadrilha especializada em "esquentar" madeira extraída ilegalmente começou a atuar em Mato Grosso em 1990. "Ninguém foi pego de surpresa", afirmou a ministra, ao se referir às prisões de funcionários do Ibama na operação, que leva o nome de um personagem do folclore, um homem com pés para trás com a missão de proteger a floresta. "Muitos dos apontados como participantes do esquema são funcionários antigos", disse a ministra. Caso do diretor de Florestas, Antonio Carlos Hummel, preso ontem, que é funcionário do governo desde o extinto Instituto Brasileiro de Defesa de Florestas (IBDF). Marina admitiu que não sabia do suposto envolvimento de seu diretor na quadrilha. "Não havia qualquer indício contra ele, que, por sinal, cancelou mais de 200 planos de manejo", afirmou.

Visivelmente nervosa, Marina descreveu a série de medidas adotadas pelo ministério a partir da Operação Curupira. Uma ação civil pública também foi impetrada contra a Fundação Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso. Na ação, o Ministério do Meio Ambiente pede a suspensão de autorização para desmatamento tendo como referência área de reserva legal de 50%.

Trata-se do segundo episódio que opõe o governo federal à política de desenvolvimento do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. Nos últimos tempos, a ministra fez críticas diretas ao governador. Mas Marina e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não quiseram relacionar a operação a Maggi - apesar de um dos presos, Moacir Pires, ser seu braço direito na área ambiental.

"Não há qualquer indício deste fato. Nem é motivo para pedido de intervenção. O fato de ingressarmos com ação civil pública já demonstra nossa discordância com a forma de atuação do governo estadual", disse Marina. A ministra anunciou ainda a nomeação de equipe substituta para o Ibama de Mato Grosso por 60 dias, a instauração de processo disciplinar contra 47 servidores envolvidos e a exoneração de 8 funcionários contratados para cargos em comissão - incluindo o gerente-executivo Hugo Werle.