Título: Acusado de traição, Suplicy lembra nazismo
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Nacional, p. A4

O PT lavou roupa suja no plenário do Senado por causa da decisão do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) de assinar o pedido de abertura de CPI mista dos Correios contrariando a bancada petista. O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), chegou a acusar Suplicy de traição. Já o senador paulista reagiu citando Adolf Hitler para justificar sua decisão. "Adolf Hitler foi eleito pela maioria alemã. Há ocasiões da história em que mesmo a maioria pode errar. O PT tomou uma decisão que não era a mais correta", Suplicy, diante de uma sucessão de ataques de colegas no plenário. Para Delcídio, Suplicy traiu a confiança da bancada de 13 senadores e está isolado. "Política se faz com palavra, política é compromisso. Vim aqui para explicar o que aconteceu, sem qualquer postura marqueteira", discursou Delcídio. "Nós não merecíamos isso. Meu caro Eduardo Suplicy: que decepção", acrescentou.

"Decepção seria para o povo brasileiro se não tivesse a oportunidade de refletir", respondeu Suplicy em plenário.

Também no plenário, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) acusou seu colega da "premeditar" sua decisão para aparecer na TV. Ideli fez referência à cena em que Suplicy aparece diante das câmeras anunciando que iria subscrever o requerimento de CPI, desrespeitando acordo com outros cinco colegas: Ana Júlia Carepa (PA), Cristovam Buarque (DF), Flávio Arns (PR), Paulo Paim (RS) e Serys Slhessarenko (MT).

Esses senadores haviam combinado com Delcídio e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), que assinariam o pedido apenas se a abertura da CPI fosse irreversível. As assinaturas dos petistas seriam entregues à Mesa Diretora do Congresso pouco antes da meia-noite da quarta-feira passada, mas Suplicy subscreveu o requerimento de CPI às 20h.

O clima na bancada é tenso. Segundo Suplicy, a senadora Ideli se recusou até a cumprimentá-lo. "Hoje, ela (Ideli) nem quis me dirigir a palavra. Ela está brava", afirmou Suplicy, em aparte ao discurso de Delcídio. O senador de São Paulo se exaltou e se emocionou.

Os senadores Paulo Paim e Tião Viana (AC) também expuseram o descontentamento com a decisão do colega. "Que eu fiquei chateado V. Exa. sabe. Eu sou daqueles que nunca deixou ninguém para trás (...) Eu senti que V. Exa. rompeu acordo que nos unificou nesses anos todos", disparou Paim. "A decisão dele nos entristeceu. Houve quebra do princípio fundamental, que é o da unidade", declarou Tião.

Diante do mal-estar, Delcídio convocou para hoje reunião da bancada. Apesar de ter criticado Suplicy, o líder disse que ele não pode ser punido, porque a direção do PT apenas recomendou aos parlamentares o não apoio à abertura da CPI mista dos Correios.