Título: Acordo automotivo pode ser adiado
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Economia, p. B6

BUENOS AIRES - O presidente Néstor Kirchner pretende proteger a indústria automotiva argentina da concorrência brasileira. Para isso, na semana que vem, o governo assinará com representantes brasileiros o adiamento, de 2006 para janeiro de 2008, do livre comércio de veículos dentro do Mercosul. A informação é do secretário de Indústria e Comércio, Miguel Peirano. A liberalização do comércio automotivo - o fim da aplicação de tarifas alfandegárias e cotas - já sofreu vários adiamentos ao longo da última meia década. Os diversos presidentes que passaram pela Casa Rosada, a sede do governo, nesse período, argumentaram que a indústria automotiva local precisava de um prazo para se adaptar à concorrência brasileira.

Desde o ano passado o governo Kirchner pleiteia um novo adiamento, já que o intercâmbio comercial nesse setor favorece a importação de automóveis montados no Brasil. Nos primeiros 6 meses de 2004, 60% dos veículos vendidos neste mercado eram de procedência brasileira.

Nos próximos dias, representantes dos governos dos dois países discutirão como será realizado o comércio automotivo nos dois anos de transição, que começaria em janeiro de 2006.

O governo também anunciará formalmente, em breve, um plano de estímulo às montadoras locais. Entre as medidas está a redução das retenções sobre as exportações. Esta redução somente seria aplicada no caso de o volume de vendas ao exterior superar as exportações de 2004. O governo também implementaria o pagamento das dívidas atrasadas do Estado com as montadoras, relativas ao "plan canje" - denominação do plano de renovação da frota - realizado há poucos anos. Além disso, poderá haver benefícios na compra de bens de capital.

MAIS CRÍTICAS

O presidente da União Industrial Argentina (UIA), Héctor Méndez, voltou a fazer as costumeiras críticas ao Brasil.

Pouco depois de tomar posse como novo responsável pela UIA, Méndez afirmou que os industriais brasileiros recebem subsídios para exportar para a Argentina. "Isso está expressamente proibido nos estatutos do Mercosul", argumentou.

Segundo Méndez, "o Brasil não pode querer ficar tirando vantagem da gente porque é nosso sócio, e não nosso concorrente". O líder empresarial afirmou que os seus colegas brasileiros "precisam ter consideração conosco. Não podem ficar nos invadindo".

O secretário Peirano, que defendeu a aplicação unilateral de salvaguardas comerciais e demais medidas protecionistas contra a entrada de produtos brasileiros, disse que "no mundo já não existem ortodoxos. Está cheio de subsídios, de medidas alfandegárias, de medidas para-alfandegárias. Se na Europa, Estados Unidos e Brasil fazem isso, por que é que nós não vamos fazer?"