Título: Argentina: cota sem definição
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Economia, p. B4

Terminou sem definição, ontem à noite, mais uma reunião entre representantes da Câmara da Indústria do Calçado (CIC) da Argentina e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Calçados (Abicalçados) para determinar a cota para a entrada desse produto no mercado argentino.

Os empresários argentinos pedem que a importação de calçados brasileiros neste ano seja drasticamente inferior ao volume do ano passado, de 15,3 milhões de pares. Segundo os calçadistas reunidos na CIC, a "invasão" proveniente do Brasil está "depredando" a indústria nacional. Os empresários dos dois países, após longas discussões, decidiram continuar as negociações hoje.

Do lado argentino, os empresários querem que a autolimitação "voluntária" à qual os fabricantes do Brasil terão de se submeter para continuar vendendo no mercado deste país implique uma cota de 10 milhões de pares.

Os brasileiros, segundo o empresário Heitor Klein, da Abicalçados, propõem uma cota de 15,3 milhões. O secretário de Indústria e Comércio da Argentina, Miguel Peirano, havia apresentado uma cota intermediária, de 12,8 milhões de pares.

A duração desse acordo de autolimitação era também ponto de discórdia. Os empresários brasileiros aceitavam o período de um ano, enquanto os argentinos pediam um prazo de três anos. Tudo indica que os empresários dos dois lados da fronteira poderiam chegar ao consenso de um acordo de dois anos de duração.

'LA INVASIÓN'

O conflito dos calçados - que se arrasta há oito anos, alternando períodos de tréguas e conflitos - agravou-se nos últimos meses. Caso hoje as reuniões terminem em novo impasse, o governo do presidente Néstor Kirchner não descarta recorrer a "medidas unilaterais" contra os calçados brasileiros.

O próprio Kirchner envolveu-se pessoalmente no conflito comercial, afirmando, há duas semanas, que era "evidente" que as importações brasileiras teriam de ser encolhidas à faixa entre 10 milhões e 12 milhões de pares.

O presidente da CIC, Alberto Sellandro, argumenta que os empresários brasileiros possuem subsídios "encobertos" de 42%. Além disso, os calçadistas argentinos sustentam que "la invasión brasileña" foi a responsável, em grande parte, pelo fechamento de centenas de indústrias do setor ao longo dos últimos anos.

Eles afirmam que, enquanto em 1994 havia na Argentina 2.600 fábricas de calçados, atualmente somente 950 empresas sobrevivem.