Título: Agricultores contam como mataram PM em Quipapá
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2005, Nacional, p. A8

Foragidos, José Luiz Alexandre da Silva Filho e Nilson Balbino da Silva alegam legítima defesa porque policial teria chegado a assentamento atirando. "Primeiro peguei uma metralhadora, mas eu nem sei atirar, depois foi uma pistola ponto 40. Dei dois tiros, um pegou na cabeça dele", a afirmação é de José Luiz Alexandre da Silva Filho, o Tubiba, 19 anos, ao assumir, ao lado do agricultor Nilson Balbino da Silva, 36, a autoria da morte do soldado PM Luiz Pereira da Silva, no último dia 5, no assentamento Bananeiras, em Quipapá. Os outros dois tiros que mataram o soldado foram dados por Nilson Balbino, que tem uma parcela no assentamento, e disse ter pegado um fuzil e depois uma pistola. Os dois afirmaram ter agido em legítima defesa em entrevista ao Jornal do Commercio. Eles disseram que Pereira chegou atirando, que eles se livraram de ser atingidos e dispararam. As armas, segundo eles, teriam sido tiradas dos policiais e do carro Fiat Uno em que eles vieram. "Eu não sabia que eles eram policiais, se eles tivessem vindo em traje de polícia, não tinha acontecido nada", disse Nilson Balbino.

Os agricultores estão foragidos e disseram não integrar o grupo de José Ricardo Rodrigues de Oliveira, pivô do confronto entre PMs e agricultores no assentamento em que um PM foi morto, o sargento Cícero Jacinto foi agredido e feito refém por mais de seis horas e um outro PM conseguiu fugir. Eles disseram que José Ricardo chegou correndo e gritando por socorro, que iam matá-lo. Ao explicar como conseguiram render os policiais e roubar as armas que estavam em seu poder, Tubiba afirmou que "eles se distraíram e saíram correndo em busca do companheiro Ricardo, a porta do carro ficou aberta e as armas estavam lá".

Eles disseram ter fugido na terça-feira, depois da prisão do pai de Tubiba, José Luiz Alexandre da Silva e de mais quatro agricultores acusados de terem mantido o sargento como refém. Os dois também atribuíram o episódio à briga interna no MST - entre José Ricardo e a direção estadual, sob o comando de Jaime Amorim. "A gente vivia na tranqüilidade, agora por causa dessa briga acontecem essas coisas", disse Balbino.

O secretário estadual de Defesa Social, João Braga acredita que a confissão dos dois, alegando legítima defesa não coincide com o encaminhamento do inquérito presidido pelo delegado Antonio Carlos Gomes e Câmara. Onze pessoas já foram presas temporariamente, a pedido do Ministério Público. José Ricardo estava sendo seguido pelos policiais, à paisana, supostamente por andar armado e ser suspeito de liderar uma quadrilha de assaltos em estradas. Ele nega e diz ter sido rejeitado pelo MST por denunciar desvios de verbas em assentamentos.